O mundo do futebol é feito de momentos de alta tensão e rivalidade, mas também de reconciliações públicas. A recente narrativa entre Antoine Griezmann e Sergio Ramos é um exemplo perfeito desta dinâmica. A polémica teve origem algumas semanas antes do aguardado derbi madrileno, quando Sergio Ramos, numa entrevista, não se coibiu de classificar o jogador do Atlético de Madrid como “ignorante”. Este comentário surgiu num contexto particularmente sensível, pois ocorreu pouco tempo depois de Griezmann ter partilhado nas suas redes sociais uma fotografia icónica. A imagem, que rapidamente se tornou viral, mostrava o próprio Ramos, então capitão do Real Madrid, a colocar o troféu da Supertaça Europeia na cabeça de Griezmann, num gesto que foi interpretado como uma brincadeira ou mesmo uma provocação camuflada. Este contraste entre a imagem de aparente cumplicidade e a dureza das palavras de Ramos alimentou a imprensa desportiva e criou uma expectativa adicional para o próximo confronto entre os dois gigantes de Madrid.
O empate a zero no Estádio Metropolitano, um resultado que não satisfez plenamente nenhuma das equipas, serviu de palco para Griezmann abordar diretamente a questão. Em declarações aos microfones da BeIN Sports, no rescaldo imediato da partida, o internacional francês escolheu deliberadamente um tom conciliador e pacificador. Em vez de atiçar o fogo da polémica ou responder na mesma moeda aos comentários de Ramos, Griezmann optou por uma abordagem diplomática. A sua afirmação, “Ramos é como um amigo para mim e respeito-o muito”, foi uma tentativa clara de desdramatizar o incidente e fechar um ciclo de especulações. Esta postura é particularmente significativa num ambiente tão passionais como o do derbi madrileno, onde cada palavra é analisada e pode ser usada como arma arremessa. Griezmann demonstrou maturidade ao separar a competição ferrenha dentro de campo da relação pessoal fora dele, ou pelo menos da que ele deseja projetar publicamente.

A relação entre os dois jogadores nunca foi linear, sendo um reflexo das intensas rivalidades em que estiveram envolvidos ao longo das suas carreiras. Griezmann e Ramos partilharam vestiário na seleção francesa, onde foram campeões do mundo em 2018, uma experiência que, presume-se, terá criado laços de camaradagem e respeito profissional. No entanto, nos embates entre Atlético de Madrid e Real Madrid, essa cordialidade era frequentemente posta de lado em nome da competição. O comentário de Ramos, classificando o colega de “ignorante”, inseria-se nesta lógica de confronto próprio dos clássicos. Contudo, a rápida mudança de tom de Griezmann após o jogo sugere que, no universo do futebol de elite, os conflitos verbais são muitas vezes táticos e circunstanciais, não refletindo necessariamente uma inimizade profunda. A capacidade de “virar a página” rapidamente é vista como uma virtude, essencial para manter o foco no objetivo desportivo.
Para além do aspeto pessoal, este episódio serve também como um subproduto da luta pelo título. Ao “suavizar” a história com Ramos, Griezmann remove um elemento de distração para a sua equipa. O Atlético de Madrid, numa fase apertada da luta pelos lugares da Liga dos Campeões, não beneficiava de uma guerra mediática prolongada com uma figura histórica do rival. A intervenção do francês teve, portanto, o duplo efeito de acalmar as águas nas relações pessoais e de proteger o ambiente coletivo do seu clube. A sua declaração foi um movimento estratégico que encerrou um capítulo desnecessário, permitindo que a equipa se concentre exclusivamente no que se passa dentro das quatro linhas. Neste jogo de poder e narrativas, Griezmann mostrou que, tal como no futebol, a melhor resposta não é sempre o contra-ataque, mas por vezes o controlo de bola e a posse de jogo, mesmo no terreno das palavras.